A normalidade, 11 mil quilómetros depois

Dois dias depois, Henrique estava a voltar à normalidade. Tratou-se da sua passagem de Bamako para Dakar e dali para Lisboa e houve que voltar a pensar no resto da viagem, a começar pela ligação de Bamako ao Senegal. O caminho mais curto, por Kita, eram só 300 quilómetros mas a estrada era tão má, que foi recomendado ao grupo fazer outro caminho, mais pelo norte, numa distância de 700 quilómetros, cerca de 100 com estrada em muito mau estado, e sem qualquer posto de combustível operacional no trajecto. A fronteira entre o Mali e o Senegal, em Diboli, fez-se bem, mas o mesmo não se pode dizer dos mais de 600 quilómetros daí até Dakar. Da fronteira até Tanbacounda, a meio do caminho, o piso ainda era bom mas daí para a frente os buracos eram tantos que a maior parte do caminho foi feito pelas bermas, em baixa velocidade, e com o máximo dos cuidados. Devido a isto, a ideia de se ir dormir a um bom hotel em Dakar teve que ser abandonada, tendo-se ficado antes em Kaolack, uns 200 quilómetros antes de Dakar. Embora sem a beleza de Dakar, a cidade era também muito próximo da costa, o hotel bastante simpático e as amenidades locais também, pelo que no dia seguinte o trio resolveu ficar aqui a descansar. Posto isto, optou-se por não se ir a Dakar e em vez disso seguir para noroeste, para Thies (muito próximo de Dakar), e depois Saint Louis, a capital do norte do país, a qual o grupo ainda visitou antes do anoitecer.
Daqui segui-se para a fronteira do Senegal com a Mauritânia, a qual é, no mínimo, das fronteiras mais originais do mundo. Enquanto do lado do Senegal ela é normalíssima e acede-se à mesma por um batelão que tanto pode ser apanhado em cinco minutos como pode obrigar a uma espera de uma ou duas horas consoante a "bicha" de pessoas, vacas ou camelos, do lado da Mauritânia é um autêntico complexo militar com paredes altas, cancelas, guardas armados e tudo o resto. Aqui os três apanharam uma "seca" de quatro horas e como se isso não chegasse, quando tudo parecia estar tratado, os guardas fronteiriços fecharam as portas do complexo, com as motos lá dentro, alegando que era hora de almoço. Só as reclamações veementes do "despachante" que tinham arranjado para os ajudar é que permitiu que as portas fossem abertas outra vez para os deixar sair sem mais demoras, e sem terem que pagar mais nada.
Chegados à Mauritânia foi sempre a rolar, com os quarenta e muitos graus de temperatura do costume mas já com zero por cento de humidade, após uma dormida e estada de um dia em Nouakchott, onde o acontecimento mais importante foi a "aventura" que os três viveram quando quiseram beber uma cerveja (ver artigo em "curiosidades"). A única surpresa até chegar a Ceuta, onde apanharam o barco de volta à Europa, foi na fronteira da Mauritânia com Marrocos, um pastor-alemão da polícia, ainda mal treinado, "detectou" um cheiro estranho numa das motos e os três tiveram que se encostar a uma parede com as mãos no ar. Como nada de anormal foi descoberto na moto, veio um outro cão, mais treinado, que já não cheirou nada de especial desbloqueando assim a situação.
No final dos finais, foram quase 12.000 quilómetros de muita aventura, o susto do Henrique e uma riqueza de experiências que muitos de nós também, certamente, gostaríamos de viver. Mas para Mário e o resto do grupo, as suas aventuras não devem ficar por aqui. Para 2010 está já a ser "cozinhada" uma outra viagem por terras africanas, desta feita ligando Luanda a Maputo e com passagem por alguns dos lugares onde Mário e Henrique andaram quando viveram na região. Ora pois!

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